Ciro Nogueira diz que Bolsonaro ficou recluso após perder eleições: ‘Estava muito abatido’
Ex-chefe da Casa Civil detalhou ter recebido ordem de coordenar a transição do governo e que não houve ‘resistência institucional’
Brasília|Gabriela Coelho e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

Durante depoimento prestado nesta quinta-feira (30) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, afirmou que o então presidente ficou visivelmente abalado e recluso após a derrota nas eleições de 2022. Segundo ele, Bolsonaro se ausentou das atividades mais diretas no Palácio do Planalto e demonstrou um comportamento introspectivo.
“Depois do resultado, ele ficou muito abatido. Teve um problema de saúde na perna e estava com dificuldades de locomoção. ava a maior parte do tempo recolhido no Palácio da Alvorada”, contou o senador. “Era difícil manter reuniões com ele naquele período, porque ele se isolou.”
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Ciro disse ainda que foi Bolsonaro quem determinou que a Casa Civil coordenasse a equipe de transição do governo para Luiz Inácio Lula da Silva, e que não houve qualquer resistência institucional.
“Foi por determinação expressa do presidente Bolsonaro que a Casa Civil ficou responsável por fornecer todas as informações e dados necessários à nova equipe. Eu fui designado diretamente por ele”, afirmou. “Inclusive, quando houve paralisações nas estradas por parte de caminhoneiros, sugeri que fizéssemos uma declaração conjunta para iniciar formalmente a transição, como um gesto de pacificação, e ele concordou prontamente.”
Transição
Ciro afirmou que a equipe de transição liderada por ele “prontamente transmitiu todas as informações necessárias” para o novo governo.
Questionado se falava com Bolsonaro sobre como se dava o processo de transição, o ex-ministro respondeu: “Com certeza. A gente estava transmitindo algumas situações dessa transição. Até nos decepcionou a ‘falta de interesse’ do presidente Bolsonaro pela situação do país. Mas foi tudo dentro da normalidade. E o presidente, em nenhum momento, quis obstaculizar qualquer tipo de situação para que a gente pudesse fazer a transição da melhor forma possível.”
Questionado se, em algum momento, Bolsonaro demonstrou intenção de violar as regras democráticas ou questionou a legalidade do processo eleitoral, o senador foi taxativo:
“Em hipótese nenhuma. Todas as instruções que recebi dele foram no sentido de garantir uma transição tranquila, da forma mais organizada possível. Nunca houve qualquer manifestação de tentativa de ruptura institucional.”
Anderson Torres
Ciro também depôs como testemunha de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Na fala, ele lembrou do momento em que trabalharam juntos e descreveu Torres como “ministro zeloso, fiel às atribuições do cargo que ocupava”. “A atuação dele era pautada pelos protocolos, pela interação com todos os ministérios e pelas informações necessárias para garantir que tudo fosse feito da melhor forma possível”, completou.
Questionado sobre eventuais conversas que indicassem intenções golpistas, Ciro foi enfático: “Jamais presenciei qualquer conversa, seja antes ou depois do segundo turno das eleições, em que Anderson falasse sobre ruptura institucional, golpe, opressão ao Estado Democrático de Direito ou qualquer medida de exceção, como estado de defesa ou estado de sítio. De forma nenhuma.”
Ciro também negou ter recebido qualquer orientação relacionada a decretos de exceção e disse desconhecer ligação de Anderson Torres ao 8 de Janeiro. “Pelo que sei, ele sequer estava no país naquele momento.”
Torres embarcou com a família para a Disney, nos EUA, às vésperas do ataque às sedes dos Três Poderes, em 6 de janeiro.
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