Estudo descobre centenas de vírus marinhos gigantes que podem manipular hospedeiros
Pesquisadores identificaram 530 novas proteínas funcionais codificadas pelos vírus, sendo nove diretamente ligadas à fotossíntese
Internacional|Do R7

Pesquisadores da Universidade de Miami descobriram 230 vírus gigantes até então desconhecidos nos oceanos. Esses microrganismos, com genomas de grandes dimensões e funções inéditas, demonstraram capacidade de interferir diretamente em processos fundamentais de seus hospedeiros, como o metabolismo do carbono e a fotossíntese. A pesquisa, publicada em abril na revista Nature npj Viruses, revela como esses vírus podem impactar não apenas os ecossistemas marinhos, mas também a saúde pública.
Utilizando uma nova ferramenta de bioinformática chamada BEREN, desenvolvida especificamente para esse tipo de análise, os cientistas analisaram dados de DNA ambiental coletados em nove grandes expedições oceânicas, do Ártico à Antártida. O resultado foi a recuperação de centenas de genomas virais, entre eles os 230 gigantes que infectam protistas unicelulares, como algas e amebas, organismos que formam a base da cadeia alimentar marinha.
Durante a infecção, esses vírus são capazes de alterar profundamente o funcionamento dos hospedeiros. Os pesquisadores identificaram 530 novas proteínas funcionais codificadas pelos vírus, sendo nove diretamente ligadas à fotossíntese.
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Isso indica que, além de se multiplicarem, os vírus gigantes reprogramam as células invadidas para alterar sua forma de gerar energia e capturar nutrientes. Em escala oceânica, esse tipo de manipulação pode influenciar o ciclo de carbono e a dinâmica dos ecossistemas.
“A presença de genes típicos de organismos celulares nesses vírus, como os relacionados ao metabolismo do carbono, mostra que eles têm um papel ativo na biogeoquímica marinha”, explicou Benjamin Minch, autor principal do estudo e doutorando em Biologia Marinha e Ecologia.
Impacto na humanidade
Esse tipo de infecção não é irrelevante para os humanos. Segundo os cientistas, vírus gigantes podem estar por trás de episódios de proliferação de algas nocivas, fenômeno que afeta a qualidade da água, a pesca, o turismo e a saúde de populações costeiras.
“Esses vírus são uma das principais causas da morte de fitoplânctons, os quais sustentam toda a cadeia alimentar marinha”, afirmou o professor Mohammad Moniruzzaman, coautor do estudo. “Compreender sua diversidade e função pode nos ajudar a proteger ecossistemas sensíveis e a evitar crises ambientais.”
Além da relevância ecológica, o estudo também abre portas para a biotecnologia. As novas enzimas identificadas nos vírus podem ter aplicações futuras em indústrias que vão da agricultura à farmacêutica.
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